Já pensou no que lhe foi perguntado?
Em poucos segundos ela entendeu toda a sua vida como uma mentira. Ou mera ilusão e utopia. Até ali a vida fora pacífica e pacata. Talvez tenha sofrido alguns choques vez ou outra. Mas agora não chegava a ser um choque. Antes, todas as coisas eram dos outros e nem a própria vida lhe pertencia. Antes, tudo dependia e era vontade alheia. Até o momento, aquele exato momento. Já havia passado horas vasculhando a memória, à procura do instante em que havia deixado as coisas do passado. À procura do instante responsável por torná-la a pessoa do jeito como era. Mas o instante só foi acontecer nesse exato momento, justificando o fato de nunca tê-lo encontrado antes, afinal, nunca acontecera. Só agora surgia a cruz, antes composta por milhões de caminhos disformes e imaginários. Embora ainda existissem, dentre todos, agora destacava-se a cruz. Encruzilhada. O que seu coração realmente quer? Você o escuta? Chega a senti-lo bater no peito? Aperte os braços, procure as artérias, sinta a sua pulsação. Está sentindo? Então, você ainda não está morta. Ainda existe este fio de vida te fazendo doer e sangrar. Assim como todos, assim como todos. Ouça: Você é assim como todos. Não é a racionalidade que nos torna humanos. A civilidade não nos conecta. É o sofrimento que nos liga aos outros. E a dor de amar nos faz reconhecer em nossos semelhantes.
Olhe para a encruzilhada. Já se perguntou o que lhe foi perguntado? Já tentou ir a fundo no denso abismo que é o seu ser? Já percebeu como os seus sonhos talvez não queiram ser realizados? Já se perguntou como chegou aonde está? Já acordou sentindo o peso do universo incrustado na sua mais pura essência? Já sentiu como se toda a vida nunca fosse se transformar? Por acaso já chegou a responder a mais simples das perguntas?