quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

As discrepâncias do Ser

Se você sente essa angústia ardendo por dentro, não adianta tentar tranquilizar-se pensando nisso como algo comum, embora seja, embora você não seja o único.
Se você sente essa angústia, é porque em algum momento você foi amplo demais e o mesmo não aconteceu com o espaço ao seu redor. Transbordastes.
Sentir as coisas, não significa possuí-las, nem tê-las significa aprisioná-las. Aliás, nunca se tem nada. As coisas não foram feitas para serem propriedade de alguém. Seguramos uma moeda, mas ela não é nossa. Nem o valor a ela atribuído. Nem nosso, nem dela. De ninguém. Vestimos um casaco, carregamos um amuleto, seguramos as mãos. Não são nossos, não somos nossos. Por mais que alguém deseje o Sol, roube a Luz ou compre um pedaço de terra... Não se pode agregar aquilo fora de sua natureza.
Aprisionar algo que, por natureza é livre, gera consequências catastróficas.
Moldar-se a um pequeno recipiente é mais fácil do que tentar preencher todo o espaço vazio a sua volta, implorando para que não entre em choque com alguém.
Em todos os momentos eu me controlo, em todos os momentos tenho que dosar as coisas, em todos momentos, eu devo economizar o que possuo. Temendo que acabe, temendo que eu me acabe, temendo não ter o suficiente para seguir até o fim. Mas tenho uma vontade de dizer àqueles com quem realmente me importo, que eu não fui tudo que conseguia, não fiz tudo que poderia, não terminei ainda, não ofereci tudo o que podia oferecer, nem mostrei tudo o que tinha pra mostrar. Quero pedir que, por favor, esperem mais um pouco.
E uma vontade... Uma vontade louca de gritar. Mas gritar o quê? De gritar a frase mais bonita do mundo. Mas nada está bom, nada está bom. A frase mais bonita, não é a mais bonita. Por que as coisas precisam ser dignas de receber o meu melhor? Não seria capaz de gritar a frase mais bonita temendo ser a minha única chance, e tudo o que seria possível ouvir, seria um grunhido horroroso de não saber o que dizer para que o mundo se volte e ouça.
Nem a dor de todos os desesperos e nem a beleza de todas a dores. Um cinza de chumbo. Da mistura de tudo. Aprendeu? Não adianta tentar misturar todas as coisas bonitas para conseguir algo que reúna todas as belezas em uma. É preciso escolher, é preciso escolher.
Na verdade o segredo não está nas coisas, mas no que delas é feito. Não queiras ter o mundo que as coisas todas são tuas, ela me disse. Sei que foi. E seguiu a perseguir a alegria de não ter nada, e continua seguindo.
Se são minhas meias palavras, ou minhas frases interminadas que retratam minha beleza, um dia cantarei uma música sem frases. O que eu tenho de melhor é o que eu não tenho.
O que eu realmente gostaria de dizer, àqueles que amo, àqueles que admiro, que não sabem que eu existo, que já não estão mais aqui, é adeus. Caso não dê tempo de me despedir. Mas quem gosta de despedidas?
Então, que nada fique registrado, que a minha frase mais bonita seja o meu silêncio. E minha maior beleza seja a de não saber. E que o meu amor esteja nos olhos de quem me vê. Agora você conseguiu.