Foi quando eu tive a certeza de algo. Eu nunca saberia quando nem por que, mas de qualquer maneira, eu pude chegar a uma conclusão sem premissas. Pensei: Se eu fechar os olhos por muito tempo e não dormir, talvez eu possa enxergar de verdade. Se eu tiver o conforto de um simples toque verdadeiro, as agulhas não poderão mais me ferir. Se eu pensar muito em uma coisa só. Se eu pensar nessa coisa com todas as minhas forças, o pensamento e tudo o que ele contém, desaparecerá completamente.
Ao te ouvir dizer meu nome, respondo de imediato. Mas foi só um impulso. Seria realmente eu quem a palavra chama? Por algum motivo ouço tudo atentamente, como se meus ouvidos pudessem me enganar menos do que meus olhos. E quem pode culpá-los? É o meu olhar para fora. É a janela de minha casa dizendo: o mundo mudou. E quem pode culpá-lo por isso? Não nós, certamente. Como podemos julgar sendo tão culpados? Nós, seres sem berço que acolha nossa agonia. Seres que de tanto querer, cometem erros sem querer. Nós, predadores indefesos, de nós mesmos, de nós mesmos. Provavelmente tenha sido um engano questionar a real existência de tudo, e pior ainda achar que ignorar o problema o faz deixar de existir. Ainda pior é deixar morrer o "inexistente" e enxergar conveniências. Ninguém funciona por aqui.
Mas a toda hora me pergunto: Como é possível? Como é possível tantos mundos paralelos entrecruzando-se sem notar? Como é possível alguém acreditar na própria individualidade? Sob qual aspecto as coisas existem quando eu não estou presente? Como eu posso me descobrir em meu inimigo e diluir-me ao lado do amigo? Seres frágeis e indestrutíveis. Quando chega o momento em que já não é possível aguentar mais, em que já não se luta, não se acredita, não se mantém, nem sequer se sustenta. Algo se renova, algo se contrói. Tudo é feito de ciclos. Nada pára, nada permanece o mesmo. É você, missionário da destruição. Desmonta-se a cada dia, faz-se novo no outro. Deixando marcado para sempre, os rastros de sua queda.