Era meu, era meu, era meu. E roubou de mim. Tirou como se tira as tripas de um bicho morto, sem piedade. Afinal, ela não sente dor, não é? Está morta! Não sente nadinha! Veja, faça um corte aqui para ver se ela grita. Não sente dor alguma porque algum narcótico corre nas suas veias. Anestésico produzido por substâncias cerebrais. Produzido pelo próprio corpo em um processo de autodefesa. Por que continua me arrancando de mim? Se eu era inteira, se eu era bela e completa? Possuía o conforto no meu âmago, bebia água da fonte pura. Agora a água ficou turva, suja. Fragmentou-me em pontos ínfimos e insignificantes. Dispersos e perdidos. Esquartejou meus membros. Arrancou a minha voz direto da garganta e eu queria tanto cantar. Por que se eu podia cuidar muito melhor de tudo? Porque se eu sei que iria sentir de forma tão mais nobre o que eles sentem ao beber das minhas emoções. E riem. E brindam. Brindam ao regozijo que encontram quando bebem o sumo salgado de minha vida. E torcem como se torce um pano sujo. Extraem até a última gota para sugar como parasitas qualquer coisa que ainda resta. Verdadeiros assassinos. Eu sei que eles nunca vão sentir o que eu sentia. Mesmo estando acabada, violada, roubada, essa é a única coisa que me consola, mas no fim não sobra nada.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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