domingo, 10 de junho de 2007

Projeção

Escuro. Cortinas negras, sem luz, sem vida, sem nada que se pudesse ver. E o sono que não vinha. Geralmente espero o sono chegar com os olhos fechados, mas nesse dia abri meus olhos para a escuridão. O quarto, que foi meu por toda vida, e ainda hoje era meu.

Quando foi que eu morri? Quando que eu não fui eu? Estive sonhando esse tempo todo, só agora não tenho sono pra sonhar, e espero ele chegar. Geralmente espero com os olhos fechados, mas hoje abri meus olhos para a escuridão. Que mágica é a noite. Hoje estou eu, ou estive todo esse tempo, no sonho, na vida. Gritei na noite, mas não tive mais pesadelos, por outro lado também não tive mais sonhos, sem sofrimento não há alegria eu sei. O meu dom de pressentir, de saber antes, de lembrar o que já foi. Eu vi, eu pressenti e me senti amaldiçoada, mesmo sendo portadora de uma espécie de dom. Por um longo tempo estive só na noite, quando ninguém mais estava, e eu vi o que ninguém vê. Vi a noite ganhar vida. E me vi morrer. As sombras que tomavam formas monstruosas, não me mexi. Não tinha sono. Geralmente espero o sono chegar com os olhos fechados, mas nesse dia abri meus olhos para a escuridão, e vi tudo que não existe. O lado esquerdo e o direito, e mais um outro lado. O bem e o mal e mais uma outra força. A escuridão sem luz, foi plena, na noite ou no dia, mas eu não tinha sono, e não esperava ele chegar com os olhos fechados como geralmente faço, agora abro meus olhos pra escuridão. Pensei estar sonhando, mas estava morta; pensei acordar, mas ainda sonhava; e quando acordei não estava mais viva. E o quarto. De como eu me lembrava de tudo que aconteceu. E como imaginava o que ainda estava para acontecer, mas não ia, pois não tinha sono e geralmente o espero chegar com os olhos fechados, mas ontem abri os meus olhos para a escuridão. E nada vi, e tudo vi.

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