domingo, 24 de fevereiro de 2008

A ação


Chega um ponto em que vem o cansaço, das mesmas coisas que rondam todos os lugares e não têm valor algum. Seria, quem sabe, o meu sonho, destruir tudo o que existe de imprestável por aí?
Mas e se, nada for reaproveitável? Que tipo de expectativa eu posso ter em circunstâncias tão estúpidas? A solução é se conformar, é renunciar ao que você nunca achou, no mínimo, aceitável.
Destruíram seu sonho, e o que você fez a respeito? Abaixou a cabeça e compreendeu algo no que nunca encontrou sentido. "Estou mais madura agora, e participar da vida implica desistir de algumas coisas." Veja como amadureceu! Veja como cresceu!
O tempo passa e a vontade de transformar o mundo também. Não é tão fácil assim, entende. Nem ao menos provável. O poder da força de vontade não é tão poderoso assim. Chega das ingenuidades, dos discursos que já me dão nojo de ouvir. "Não desista de seus sonhos; nunca deixe de lutar; não desanime perante os obstáculos."
É fácil falar quando tudo já foi superado. É fácil zombar do sofrimento alheio, e também é fácil ridicularizar as crenças, embora seja golpe baixo...
Eu sinto muito se destruo o ânimo ou o otimismo, mas alguém tem que cumprir esse dever. Olha só o que me tornei. Nem com o horror consigo me sensibilizar. E a única coisa de bom que me resta, a única ação que posso desempenhar agora, consiste em permanecer estática.





sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

De perdas e desfeitas

Acho que não fui bem sucedida, mas pretendia escrever uma sequência de textos, que se complementariam. Os três últimos eram capítulos dessa sequência. Ao mesmo tempo em que queria fazer deles uma só história, não queria conectá-los demais de modo que pudessem fazer sentido sozinhos. Mas isso não vem ao caso. O caso é que terei que interromper a sequência para publicar estas palavras, e no momento não sei ao certo quais serão elas.
Aqui, às vezes as coisas se confudem em imaginárias e reais. Talvez seja o caso, talvez não. Isso não importa. Queria dizer o seguinte: Perder. Dei-me conta de que sou ótima em perder e só estabeleço e permaneço em compromissos pelo simples motivo de não ter um bom motivo para deixá-los. Mas isso nem sempre basta e o tempo todo eu estou pronta para perder. É assim que descrevo clinicamente minha apatia: Um instinto de autopreservação. Ninguém pode me fazer sentir completa, e ninguém pode me fazer sentir vazia.
Completa eu estou, vazia eu já sou.
De repente vejo-me ensaiando discursos e procurando desculpas para fazer o que é preciso. De alguma forma eu estive com pena de abrir mão de tudo. Tudo tem seu lado bom, tudo tem seu lado ruim. Ou são os dois ou não é nada. Por que isso me custou tanto? Era meu último laço, minha única passagem, para algo desgastante demais, para algo que me deixava infeliz e que eu não queria deixar ir embora.
Eu deixei novamente, sabia que não resistiria por muito tempo. Nunca vou ter certeza das minhas escolhas. Mas essa sou eu. Ótima em perder. Nada faz parte de mim, nada me tira pedaços. Completa eu estou, vazia eu já sou.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O sonho

Tudo o que nós temos é o presente, ele me dizia. Ou seja, parece que tudo escapa, mas na verdade, nada sai do lugar. Eu queria aquilo e aquilo, mas sem pressa. Queria dizer tudo o que se passa sem pudor algum, mas tenho medo do que uma hora eu possa vir a dizer. E se a gente nunca se controlasse, como poderíamos...? É tão fácil imaginar sensações fantásticas, mas é difícil fazer acontecer. É extremamente mais agradável viver de imaginação, mas a ditadura das coisas não perdoa os sonhos, muito menos os sonhadores. Então se não é possível levar a realidade repressora aos sonhos, então por que não tornar o sonho uma realidade? Como você não entendia isso antes?
Veja bem, a criança, tem tanto pela frente. Olha só o seu caminho. Consegue enxergar a direção? Consegue enxergar o fim? Tudo o que temos é o presente, ele disse. Tudo é a mesma coisa e o que não é, nunca foi. Esqueça isso. Olha só o que você tem pela frente. Vai tranquila, porque temer não adianta. Filho querido, moleque bastardo. Para alguns você foi isso, e para outros aquilo, e o seu sonho qual é? Consegue enxergar o fim? Escuta criança, você irá fazer uma viagem cansativa, vai sem medo e tente não voltar antes da hora. Está vendo o caminho? Vá por onde quiser, você está pronto. Não precisa acreditar se não quiser, mas deve ir sozinho.
No fundo, a sua busca interminável é a única responsável pela movimentação da vida, e pela sua desmotivação. E busca pela liberdade. Liberdade de quê? Não entende que essa concessão é impossível? Não é liberdade dos outros que quer, é de tudo, inclusive de você mesma. E essa corrente, você sabe, nunca irá se quebrar. Esqueça isso. O que existe é agora, e o que não é nunca foi, portanto, desligue-se disso, esqueça disso. O seu sonho qual é?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O despertar

Das coisas a gente esquece. Tudo começa a ser envolvido em uma neblina densa até o desaparecimento. A única coisa de que consigo me lembrar por primeiro, é a linha. A linha sendo traçada, nas coisas, no papel. Eu desenhava. Antes disso, tudo é neblina. O que me lembro é isso: desenhava. Concentrada, como se um erro, pudesse acabar com o mundo. Olhava tudo de perto. Cada traço, cada intervalo de espaço. Assim de perto, as linhas não fazem o menor sentido, e é preciso afastar-se para ver formar a imagem. A mania de olhar demais para os detalhes e perder a noção do todo deve ter sido a causa da minha dificuldade em enxergar lógica nas coisas, que veio à tona mais tarde. Ver tudo muito de perto foi a minha cegueira. Por outro lado, a audição interferia nos outros sentidos. Era como adivinhar o que viria, mas nem sempre era o que eu adivinhava. Então eu soube que existia a surpresa, aquilo que a gente erra em prever, ou aquilo que nos mostram ou nos mostramos.
Sempre soube que eu era errada, mas não tinha dúvidas sobre o que queria. E sabia também que um dia eu poderia ser eu. Assim, errada mesmo. Um dia quando eu crescer... Uma dia quando estiver forte.
O pior de todos os quereres e não poderes, é esperar que a hora de poder, chegue.