terça-feira, 27 de maio de 2008

Tendência

Eu queria saber onde vai parar a razão, ou onde se esconde a vontade tão incontrolável de ser algo mais.
Existe esse ponto alto e logo em seguida uma cadência.
Porque algo sempre pesa mais de um lado.
As coisas estão sempre tendendo.
Algo em equilíbrio não faz esse tipo de diferença, porque não pesa.
De todas as coisas que eu vi, eu não descrevo sequer alguma.
Na vida é preciso fazer escolhas.
E eu nunca soube falar de coisas bonitas.

sábado, 10 de maio de 2008

Desencanto

Era manhã de feriado. Ao caminhar pela rua, ouvi uma bola quicando em algum lugar perto dali e o rangido das correntes de um balanço com uma criança a brincar, ou talvez fosse só o vento provocando o barulho. Hoje não estou reflexiva. Perdi a capacidade de enxergar os mais sutis detalhes. Hoje só quero caminhar. Quando a gente perde a perspicácia e o dom de fazer as coisas bonitas? A rua é só uma rua, a árvore é só uma árvore, o vento é só o vento. E quando eu me tornei só uma pessoa?
Continuo andando no mesmo ritmo, e meus passos servem como marcadores do tempo. A mesmice me irrita. Corro alguns metros para quebrá-la, mas logo me canso. Volto à mesma pulsação que marca o compasso da minha vida. Fecho os olhos para quem sabe me surpreender no caminho. Tropeço no buraco. Foi má idéia.
As conversas saem dos cômodos das casas com as portas abertas. O que elas pensam que acontece aqui fora?
Alguém me segue. Apresso meus passos, não olho para trás. Tropeço no buraco. Ao cair, vejo que não havia ninguém atrás de mim. Levanto devagar, volto a andar no mesmo ritmo de antes. Sigo o grande muro que não acaba. Só ouço os meus passos na rua e o rangido das correntes de um balanço com uma criança a brincar. Procuro da onde vem o som e encontro o balanço, mas sem a criança. Era só o vento provocando o barulho.

sábado, 3 de maio de 2008

Lado a lado

Eu olhei, mas não me viu. Eu não saberia o que dizer mesmo... É estranha essa preocupação repentina com tudo. Nunca liguei para nada. Nunca abraçei ninguém assim, tranquila, forte, enquanto sentia o cheiro do seu cabelo. E era exatamente como eu lembrava. Evitei olhar novamente, porque senti uma lágrima prestes a cair. Nunca havia sequer abraçado alguém por iniciativa própria. Senti-me tão vulnerável e ao mesmo tempo tão reconfortada. Eu pedi certa proximidade e não rejeitaram meu pedido, não me afastaram como eu pensei que fariam.
Eu não sou tão forte como penso que sou. Até os corações de pedra precisam de alguém de vez em quando ou até mesmo de outro coração de pedra para dividir sua falta de sentimentos.
Mas esse tipo de receptividade me deixa cada vez mais sensibilizada. Eu não queria perder a pose assim. Não queria perder a minha indiferença, minha frieza, mas as atitudes me afetam.
É engraçada a vontade que eu tenho de ficar sempre "mais cinco minutinhos".