Aquela mulher olhou para o copinho de plástico e sentiu pena. Agarrou depressa o marcador permanente e desenhou nele uma carinha feliz. Pronto agora está melhor. Pelo menos o pobrezinho sorri um pouco. Mas não foi o bastante. Ela sabia que ninguém nunca ia estimar aquele copo, pois ele não foi feito para isso, e sim para ser usado uma vez, depois disso já não serviria mais. Mas ele sorri, pelo menos por enquanto. Mais vale um segundo de felicidade do que... Não, não adianta. Nada pode mudar. Nada fará esquecer o mundo descartável, onde as coisas não duram, onde se usa e em seguida joga fora. Nada a fará esquecer da festa da empresa onde terá que sorrir plasticamente para pessoas antipáticas, da música que ninguém se lembra porque parou de tocar no rádio, do colega de trabalho com quem dormiu na última festa e hoje nem deu bom-dia, do copo plástico que ela violou. E agora tem como destino a lixeira. Nada a fará esquecer que as coisas são descartáveis, a amizade, o prazer, as aparências, o amor é descartável. Tudo é postiço, mas que, por favor, tenha existido uma gota de felicidade no sorriso plástico, um quase orgasmo no sexo sem vontade, bons momentos em que ouviu a música esquecida, diga por favor, que houve um segundo de satisfação em tudo isso, que algo valeu a pena.
Mas nada a consola, por isso, num gesto indiferente, joga o copo descartável na lixeira. E lá dentro, ele ainda continua a sorrir.