domingo, 28 de outubro de 2007

Mundo efêmero

Aquela mulher olhou para o copinho de plástico e sentiu pena. Agarrou depressa o marcador permanente e desenhou nele uma carinha feliz. Pronto agora está melhor. Pelo menos o pobrezinho sorri um pouco. Mas não foi o bastante. Ela sabia que ninguém nunca ia estimar aquele copo, pois ele não foi feito para isso, e sim para ser usado uma vez, depois disso já não serviria mais. Mas ele sorri, pelo menos por enquanto. Mais vale um segundo de felicidade do que... Não, não adianta. Nada pode mudar. Nada fará esquecer o mundo descartável, onde as coisas não duram, onde se usa e em seguida joga fora. Nada a fará esquecer da festa da empresa onde terá que sorrir plasticamente para pessoas antipáticas, da música que ninguém se lembra porque parou de tocar no rádio, do colega de trabalho com quem dormiu na última festa e hoje nem deu bom-dia, do copo plástico que ela violou. E agora tem como destino a lixeira. Nada a fará esquecer que as coisas são descartáveis, a amizade, o prazer, as aparências, o amor é descartável. Tudo é postiço, mas que, por favor, tenha existido uma gota de felicidade no sorriso plástico, um quase orgasmo no sexo sem vontade, bons momentos em que ouviu a música esquecida, diga por favor, que houve um segundo de satisfação em tudo isso, que algo valeu a pena.
Mas nada a consola, por isso, num gesto indiferente, joga o copo descartável na lixeira. E lá dentro, ele ainda continua a sorrir.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Desejos de Estela

Estela gritava aos outros "eu te amo".
Com todas as forças, Estela gritava isso aos que amava.

Mas ninguém respondia o mesmo. Quem Estela amava, não a amava também.
E um dia, Estela gritou "eu te odeio" a quem odiava, com todas as forças. E esta pessoa respondeu o mesmo. Estela assustou-se, mas pensou: "Até que enfim, um sentimento recíproco!"

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aos determinados blogueiros!

Sei que às vezes bate um desânimo, a inspiração falta e a transpiração sobra. Sei também, que às vezes falta tempo. O que ganhamos com isso? Gratificação ou frustração? Ambos, ao meu ver...
O blog é criado, começa um pouco tímido talvez, mas com muito pique, aí com o tempo perde um pouco da força, mas depois volta e assim vai oscilando até... Até não sei quando! Mas tudo amadurece com o passar do tempo, e muitas fases vão se definindo, outras idéias se formando e uma história sendo construída.
E para essa não desistência, ofereço o certificado do blog, que recebi da Lisiê, a drama, (muito obrigada por ter me mandado, nunca pensei em receber um certificado do blog, valeu mesmo! Eu não esperava...), deixando de lado o momento "miss", vou enviar este mesmo certificado aos blogs que estão em sua melhor fase (seja esta qual for, pois cada uma tem determinada característica). Enfim, aí vão os vencedores: Lexotan, O Estranho Mundo de Jack, Imaginação Grátis, Fundo do Mar e Rasurados.





segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Espelho d'água


Nunca mais tomei banho de chuva. Mas pra sempre ficou marcada em mim a sensação que é ter os pingos d'água tocando a pele delicadamente e às vezes nem tanto. A sensação de renovar-se, de estar amparada ao relento. A água se misturando com as lágrimas que deixam de ser lágrimas, com o cabelo, com as mãos e o corpo inteiro. A sensação de esquecer o tempo e o aborrecimento. E hoje, quando chove, não vou lá fora. E se estou na rua quando acontece, faço o ridículo: escondo-me, fujo, refugio-me. Afasto-me das gotas, quase iguais as que já estiveram em mim e me faziam ser a estrela do filme e não simplesmente assisti-lo. Hoje, quando chove, eu penso. Penso que a chuva traz uma única oportunidade, porque uma mesma lágrima nunca escorre duas vezes. E os pingos morrem uma vez que chegam ao chão. Hoje, quando chove, assisto da janela as pequenas gotas morrerem na terra ou no asfalto, e já não sirvo mais de intermédio entre o céu e a terra. Quase posso enxergar a pequena Suellen brincando sozinha com a chuva e por um momento a imagem infantil me alegra, mas logo preciso lembrar de que já não tenho a mesma sabedoria para aproveitá-la. Vejo as gotas acabarem e morrerem, escondendo o fato de que quem está morrendo sou eu.