Eu não escrevo histórias. Elas também não me escrevem.
Tudo são palavras dispersas no papel, algumas vezes fazem sentido, em outras, sentidos não fazem algum. São resultados de momentos vazios. A palavra sou eu, porque vem no momento em que eu não estou aqui, ou ali, ou lá. Minha história não tem fim, nem começo. Uma circunferência rodando em campos infinitos, sem sentido algum. Minha história não tem fatos, nem feitos. Minha história não foi, será na incerteza do não ser. Minha história não tem espaço, nem tempo, nem enredo, nem personagem. Só sensações, nem são sentimentos, são sensações no vazio, um nada no vazio. Um sentido sem corpo e uma vida sem alma, minhas histórias são assim. Sem objetos, sem pessoas, sem tudo do que o mundo é composto, um vazio. Minha história não é uma descrição, é uma imagem, o sentir sem saber, sem perceber. Minha história é uma mentira acreditada, o que não deixa de ser uma verdade, porque a verdade nada mais é do que uma mentira bem contada. Minha história é abstrata e foge, escorre, some. Mas eu são sei escrever histórias, porque só entendo outra língua. O idioma espaço-tempo não funciona. Não narro o passado, porque o futuro pode transformá-lo, o presente faz o futuro e antes que resolva falar do presente ele já foi: passado. Minha história é dupla, tripla, quádrupla e única. Sem peso, sem tamanho, sem começo meio e fim, e muito menos fim meio e começo, sem cor, sem chão, sem saber, sem mancha, sem voz, sem mão.
Minha história é, ponto na outra linha parágrafo