quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Filósofa destrambelhada

O ar estava úmido e fresco. A noite reinava delicada e suprema como sempre. Poucas estrelas apareciam por causa das nuvens. Pensei no que dizer, pensei no que fazer, pensei no que pensar. Nada. Chega de tudo. Cansei. Hoje não serei poética, nem melancólica, nem filosófica. Hoje serei eu. Seca, amarga, cruel. Não, também não serei cruel. Serei apenas... Apenas serei. E essa tarefa, por mais espontânea que possa soar, é demasiada árdua. Dizer a verdade também não é uma tarefa fácil, até mesmo porque a maioria das pessoas não gosta de ouvi-la. Mas é segredo. A verdade é um segredo, é um bicho astuto que no momento em que nos voltamos para vê-la, já desapareceu, ninguém a vê, ninguém a captura, ninguém sabe o que ela guarda. Esqueça tudo que já aprendeu, porque esse é o nosso objetivo na vida: aprender tudo errado, como se fosse o certo e depois desacreditar de tudo e construir novas coisas, que por sua vez serão destruídas futuramente para então, dar lugar a novas coisas. Assim vai se formando o ser mais confuso e deficiente até hoje encontrado: o humano. Olho para mim mesma, tão perdida, ótima representação da espécie. Digo a mim mesma, chega de frescura, chega de perguntas, chega de você. Eu me canso de mim mesma assim, fácil, fácil. Mas hoje eu não falarei de mim, chega de mim. Hoje vou falar da vizinha, e do motorista de ônibus. Nunca ouvi os pensamentos do motorista, o que não significa que ele não pense (a verdade não é o que a gente ouve). Já ouvi a vizinha dizer bobagens e futilidades, o que não significa que ela não tenha pensamentos mais profundos (a verdade não é SÓ o que a gente ouve). Ontem sonhei que via minha casa sendo demolida, o que não significa que quando acordei minha casa estava aos destroços (a verdade não é o que a gente vê), mas também não quer dizer que eu não possa deixar minha casa e quando voltar ela estar demolida (a verdade a gente pode não ver). É isso! A verdade acontece mesmo sem a nossa presença, mas quem garante? Quem garante que eu esteja em minha presença e não em outro lugar? Quem garante que a verdade não me engane enquanto não ouço, não vejo, não sinto? Mas quando eu não ouço, não vejo, não sinto? Será que essas coisas realmente acontecem? E se não acontecem, por que eu sinto? Porra, quebrei a promessa de não ser filosófica (as promessas têm o valor que damos à elas). Por que damos valor a determinadas coisas e a outras não? Por que alguma coisa sempre significa mais? Por que podemos fazer essas escolhas? Por que existe uma certa crueldade na tão almejada liberdade? E se ela é cruel, por que a almejam? Se a realidade nos engana, se tudo pode ser uma simples ou complexa ilusão, por que todos se importam tanto? E se tantas vezes já cheguei a conlusão de que é impossível entender as coisas, porque sou orgulhosa demais para admitir que eu sou incapaz de entender, eu continuo. Entender as formas, as cores, o que é vivo e a própria vida. Algo existe.

3 comentários:

Luciana disse...

Nossa, ler isso é quase como estar em Matrix.


Ok, você é foda, outra vez.


=**

Jaq Gimenes disse...

Gosto de acreditar no momemonto que morremos, naquele segundo final que nos separa da vida todas as respostas são esclarecidas como num flash, que deveria durar horas e horas, mas que é apenas um segundo,uma segundo de profunda clareza, e aí então cada um descança em paz!

*o:

Garon Piceli disse...

Sim.. muitas coisa que pensamos ser a realidade não é, e quem disse que é?
Talvez o que nos falaram é o que nós levamos como a realidade... e nunca paramos para pensar o que é real para nós! Temos que começar a intrigar qualquer coisa até experimentarmos a real sensação!