A bagunça era imensa, a ponto de vir a vontade de deixar tudo para trás, jogar fora, esquecer. Olha só a bagunça que eu fiz. Nunca vou conseguir deixar tudo no lugar, nunca. A precipitação. Se tivesse raciocinado antes de derramar os grãos... Agora estão todos aí, misturados, sem santo que os separe. Se pudesse chamar agora Rumpelstichen, para separar todos esses grãos... Mas Rumpelstichen fiava palha em ouro, não sei se daria conta dessa situação. Demorarei a vida inteira para arrumar essa bagunça. Quem disse para ser tão apressada, tão inconsequente, tão imprudente? Que vontade de me desfazer dos grãos, de esquecer que tenho um problema para resolver, contas a prestar, coisas a acertar, porque quando não tem jeito, é isso que se faz mesmo, esquece, deixa que o passado cuida. Pobre passado, deve carregar tanta coisa nas costas... Mesmo que pudesse jogar tudo fora, mesmo que eu pudesse ir sem olhar pra trás, mesmo que eu pudesse dizer adeus, olha só quanta coisa eu plantei para me desfazer agora, quanta coisa eu perco.
É esse o momento. Assim, eu sento e começo a catar os grãos. Um por um, com uma dificuldade imensa para diferenciá-los. De grão em grão a galinha enche o papo, vovó dizia. Mas naquele caso era no sentido literal da frase. Não sei... Talvez a bagunça tenha sido grande demais, mas de grão em grão...
2 comentários:
todos nós chutamos o balde uma hora, para o bem ou para o mal, talvez isto estrague nossa vida e a de quem está em volta. Mas nunca fazemos isto sozinhos, de certa forma a culpa jamais será totalmente sua. Talvez isto estrague, talvez isto arrume.
"...mas de grão em grão demorarei uma vida toda."
é a vida demora, demoramos a dar um geito na paranoica vida. Mas temos que de pouquinho tentar viver e arrumar tudo...
:* mulher!
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