sexta-feira, 25 de abril de 2008

Requiem

Estive travando uma grande luta contra os astros da primeira e da segunda órbita para que não saíssem de lá. Ontem eu tentei copiar o que nunca vi. Certa vez disse que nunca renunciaria aos meus princípios, no entanto... Quis fugir para galáxias distantes onde nada me alcançasse, mas quem não alcançou fui eu. Comecei a subir escadas, mas elas me cansaram, melhor ficar no terreno plano, ou descer ao subsolo que não exige muito esforço. Já conheci o inferno e não é ruim, ao contrário do caos que por aqui reina. Ontem eu disse ao meu amor que não o amava, embora não o odiasse, mas depois precisei desdizer, e me dei conta de que não há como desdizer algo. Por isso, pedi perdão.
Um dia mamãe me expulsou de casa, e disse que eu não era mais a filha que ela criou. Assim, eu acreditei ter me tornado outra pessoa, mas sei que tornados raramente acontecem por aqui, então soube: Algumas pessoas simplesmente não se encaixam.
Ontem pedi perdão por ser como sou, eu não pretendia. Eu corrompi a todos depois de me estragarem por dentro.
Ao fazer o jantar lembrei que nunca aprendi a cozinhar, por um momento pensei que nunca comeria de novo. A fome foi tão grande que eu matei uma pessoa para ter a sua carne, mas depois das primeiras mordidas, percebi como o gosto era ruim, então a deixei. Por esse fato, virei assassina. Sabe, se eu tivesse matado por um motivo nobre como alimentação aí não teria problema. Pedi perdão.
Sozinha eu sentia medo, e não suportei. Obriguei alguém a me amar e tentei ser persuasiva, mas por algum motivo tudo ficou infeliz. Entendi que não se pode obrigar alguém a amar, só se pode obrigar outras coisas. Pelo menos sabia deixá-los partir. E pedi perdão. Mas antes me perdoei.
Sempre soube que eu não era daqui, aqui não era o meu lugar. Então fui à minha origem. Não era da terra, era do mar. Por fim atirei-me nele. Mas não foi o fim. Me tiraram de lá, levaram-me em uma caixa e a trancaram, enterram-me em um buraco. Queriam me obrigar a ser da terra, como sempre quiseram me obrigar a ser outras coisas. Mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele instante, não tinha reações. Com o tempo, assisti meu corpo a se decompor, e enquanto ele apodrecia, finalmente meu exterior fez jus ao meu caráter.

5 comentários:

Jaq Gimenes disse...

Meo!Definitivamente você escreve muito bem, e se um dia for pra academia de letras, nao irá pelo nome, mas sim por puro talento!

Mas só penso, se isso tudo que escreveu tem a ver contigo, pois não te vejo podre assim!

Não mesmo!
*o:

Luciana disse...

ninguém sabe qual o próprio espaço, e para piorar uns tomam os dos outros.

Mente Estranha disse...

é complicado saber qual o seu lugar...
e o pior é quando te obrigam a se adequar a um lugar qualquer.

ps:. psicopata.

lisspow disse...

e a carne, foi pro lixo? nem teve o direito de ir ao seu lugar de origem? ou era o lixo onde devia ficar?

Natalia Novais disse...

seu caráter não é podre, suh!