terça-feira, 11 de março de 2008

O julgamento

E enquanto caminhava entre as lápides, pensei no que realmente sentia, porque agora, não adiantaria nada mentir para mim mesma. É bom ter essa sensação de conseguir ser sincera. Mesmo quando eu quis o mal, e desejei mal. Isso é condenável? Eu não escondi meu ódio. O importante é tê-lo vencido. Venci? Mais repulsivo não é a raiva, nem o sentimento destrutivo, mas a indiferença com que tratei aquele amigo que veio chorar sua dor, o necessitado que simplesmente ignorei, a escolha foi minha. Eu escolhi deixá-lo. Sem amor, ele nunca foi meu parente. E para com meus parentes, nunca tive amor. Quem enxerga meus semelhantes, quem colhe os frutos do plantio, quem planta? Quem chega somente na hora da colheita? Lembro da vez em que tirei proveito do outro, não me orgulho disso.
Se eu tentar me isentar das coisas, serei igualmente responsável por elas. Não adianta querer fugir, nem fingir. De nada valem as aparências quando a verdade corrói por dentro. O que é de fato sincero, determina.
Cheguei a pensar que ninguém iria vir para o meu julgamento. Não temia porque não achava motivos para isso. Minhas atitudes podiam não ter sido nobres, mas não havia feito o mal.
Não. Meu hábito de mentir... Já ofendi, esnobei, roubei, falsifiquei, feri, machuquei. Sim, eu havia feito o mal. Se me arrependesse de coração, com certeza iria ser perdoada. Como faria isso, de arrepender-me, eu não sabia. Era preciso implorar de joelhos e dizer que sentia muito?
A minha infantilidade ainda não tinha ido embora, acho que não ficamos sábios ao morrer, afinal.
No fim das contas algumas coisas simplesmente não valem a pena. Fazer o quê? Sentar e chorar? Gritar por ajuda? Pedir perdão?
Mesmo se fosse por minha imbecilidade, não adiantaria. No fim das contas, ninguém estava lá para me julgar. Ninguém me acusou, nem condenou. Eu fui o réu, fui advogada, fui promotora, testemunha e juíza. Quem julgou fui eu. E ninguém poderia ter feito me sentir mais mesquinha e egocêntrica, do que eu mesma fiz.

Um comentário:

Luciana disse...

Você me da agonia escrevendo como se estivesse morta. De qualquer forma esta muito bom. Mas ressucite ok?
=)
=*