domingo, 23 de dezembro de 2007

As decisões não tomadas

Eu sei disso, eu sei. Mas no instante em que eu decidi escrever, vi aquela frase, parecendo um anúncio me dizendo que eu não deveria fazer nada. Mas eu queria dizer, mesmo sem saber como e o quê. Queria que você soubesse, mas pensei que talvez fosse melhor deixar tudo como está.

Egoísmo? Talvez seja. Jogar tudo assim na sua mão, para que você decida o que fazer, sem que eu coloque nada do que é meu em risco... Eu sei disso. Sei que não colaboro muito com a situação. Sei que evito mexer nos problemas, mas você sabe como eu penso. Não posso interferir, entenda, eu não tenho esse poder, nem essa liberdade, nem esse direito. E talvez nem mereça ter.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Fugas de Estela

Estela realmente pensava ter conseguido. Mas vocês conhecem Estela, menina ingênua, sonhadora, acredita que as coisas realmente dão certo no final. Mas deixa ela acreditar no que quiser, pobrezinha. Deixe-a viver na sua ilusão que assim não fere a alma. Mais vale uma ilusão realizada do que uma realidade desiludida, não é mesmo Estela? E ela concorda, balançando a cabeça com inocência. Desse jeito tão pueril, ela não se desgasta como os outros. Conserva a fé, a esperança, tudo aquilo que a maioria já perdeu.
Às vezes chego a pensar que ela conscientemente engana a si própria para não dar de cara com a realidade amarga que todos conhecem, sabendo que vive uma mentira. Pobre de você Estela! Não é agindo assim que um dia sofrerá mais do que o necessário? Não é desse modo, procurar mais motivos para querer destruir o que já foi?
Durma, Estela. Durma e sonhe que é feliz. Aqui, querida, não tem lugar para você.

Nathalia, do "She walks on me", me enviou um selo dos escritores da liberdade. Interessante o significado desse selo... Obrigada!


Agora eu mandarei o selo para outros blogs, porém, alguns para os quais eu mandaria já o receberam, então são só dois:


"O estranho mundo de Jack": Apesar da Jack não atualizar faz um tempão, eu gosto das estranhices dela.

"Modo imperativo": Esse é o blog da Leca, companheira de classe, de transporte e de blog. Gosto de suas poesias.

Enviados!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Sobre Títulos

Eu sei, não sou a única que tem problemas com títulos. Ele sempre fica para o final; e quase sempre é difícil pensar em um bom título. Às vezes o próprio texto pede um em especial, mas é só às vezes. Acredito que essa dificuldade exista porque o título é a primeira coisa que se lê, e vai ser o item que dará a primeira impressão para texto, que será o fator identidade, que causará simpatia ou não, determinando quem o lerá. É muita responsabilidade para escolher assim, sem motivo. Não importa se o texto é bom ou ruim, o título é que chama atenção. Um texto pode ser horrível, mas se tiver um bom título, eu lerei; assim como um título ruim tem efeito contrário. Então eu quis inverter o meu método. Escrevi primeiro o título, já sabendo que iria falar sobre os próprios, sobre a capacidade que têm de revelar muitas coisas em uma frase, ou ainda em uma palavra; e nos fazer imaginar o que está por vir. Os títulos me inspiram e me intrigam, fazem pensar porque o autor usou certas palavras e não outras.
Por todos esses motivos, o título desse meu texto me faria seguir em frente, mas como podem ver os que o leram até aqui, esse texto não honra o título. E agora penso em mudar o título para um outro pior, pois assim não causará esse contraste com o texto e consequentemente uma decepção; e assim eu poderia poupar o tempo de quem, como eu, tem esse carinho especial por títulos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Narração sem cotovelos nem joelhos


Eu não escrevo histórias. Elas também não me escrevem.
Tudo são palavras dispersas no papel, algumas vezes fazem sentido, em outras, sentidos não fazem algum. São resultados de momentos vazios. A palavra sou eu, porque vem no momento em que eu não estou aqui, ou ali, ou lá. Minha história não tem fim, nem começo. Uma circunferência rodando em campos infinitos, sem sentido algum. Minha história não tem fatos, nem feitos. Minha história não foi, será na incerteza do não ser. Minha história não tem espaço, nem tempo, nem enredo, nem personagem. Só sensações, nem são sentimentos, são sensações no vazio, um nada no vazio. Um sentido sem corpo e uma vida sem alma, minhas histórias são assim. Sem objetos, sem pessoas, sem tudo do que o mundo é composto, um vazio. Minha história não é uma descrição, é uma imagem, o sentir sem saber, sem perceber. Minha história é uma mentira acreditada, o que não deixa de ser uma verdade, porque a verdade nada mais é do que uma mentira bem contada. Minha história é abstrata e foge, escorre, some. Mas eu são sei escrever histórias, porque só entendo outra língua. O idioma espaço-tempo não funciona. Não narro o passado, porque o futuro pode transformá-lo, o presente faz o futuro e antes que resolva falar do presente ele já foi: passado. Minha história é dupla, tripla, quádrupla e única. Sem peso, sem tamanho, sem começo meio e fim, e muito menos fim meio e começo, sem cor, sem chão, sem saber, sem mancha, sem voz, sem mão.
Minha história é, ponto na outra linha parágrafo

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Separação dos grãos

A bagunça era imensa, a ponto de vir a vontade de deixar tudo para trás, jogar fora, esquecer. Olha só a bagunça que eu fiz. Nunca vou conseguir deixar tudo no lugar, nunca. A precipitação. Se tivesse raciocinado antes de derramar os grãos... Agora estão todos aí, misturados, sem santo que os separe. Se pudesse chamar agora Rumpelstichen, para separar todos esses grãos... Mas Rumpelstichen fiava palha em ouro, não sei se daria conta dessa situação. Demorarei a vida inteira para arrumar essa bagunça. Quem disse para ser tão apressada, tão inconsequente, tão imprudente? Que vontade de me desfazer dos grãos, de esquecer que tenho um problema para resolver, contas a prestar, coisas a acertar, porque quando não tem jeito, é isso que se faz mesmo, esquece, deixa que o passado cuida. Pobre passado, deve carregar tanta coisa nas costas... Mesmo que pudesse jogar tudo fora, mesmo que eu pudesse ir sem olhar pra trás, mesmo que eu pudesse dizer adeus, olha só quanta coisa eu plantei para me desfazer agora, quanta coisa eu perco.
É esse o momento. Assim, eu sento e começo a catar os grãos. Um por um, com uma dificuldade imensa para diferenciá-los. De grão em grão a galinha enche o papo, vovó dizia. Mas naquele caso era no sentido literal da frase. Não sei... Talvez a bagunça tenha sido grande demais, mas de grão em grão...

domingo, 11 de novembro de 2007

Saudade

Acordei tarde, a voz da Cássia soava triste e distante nos fones de ouvido que já estavam quase caindo da cama. "As pessoas morrem, conforme-se". O Sol brilha hoje, o céu está limpo. Então por que essa claridade me irrita? Por que nesses dias as pessoas abrem as janelas e respiram fundo como se fossem obrigadas a aproveitar o ar da manhã? Por que elas agem como se fossem obrigadas a serem felizes? Num esforço que suga quase toda a sua energia vital, com a irônica finalidade de aproveitar a vida. Eu tive um bom momento, mas o perdi quando me dei conta disso. A felicidade a gente aproveita inconscientemente, a partir da hora em que existe a percepção de que algo está sendo aproveitado, o bom momento se perde. "As pessoas morrem, conforme-se". Já me conformei e não foi difícil. Difícil não é se conformar quando elas morrem, e sim quando vão embora, deixando só a lembrança de um esforço em fazê-las ficar. Porque dos momentos felizes a gente não lembra, só experimentamos, mas não temos consciência deles. As pessoas morrem, vão embora, você se esforça para ser feliz e se mata para tentar viver. Nada pode ser feito, conforme-se. Todo esse saber, esse conhecimento, essa impotência. Conforme-se ou vá embora.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Meme interessante

Lisiê, a drama, mandou um meme para mim. É o seguinte: abrir a página 161 do livro que está mais próximo de você no momento e transcrever a quinta frase para o blog, depois repassar para cinco pessoas, então aí vai:

"Segundo as estatísticas, como ele existem nada menos que 25 milhões no Brasil, que se pode fazer?"

(Protesto Tímido - Fernando Sabino. Antologia da Crônica Brasileira)

E eu vou repassar para:

Modo Imperativo
Fundo do Mar
Rabiscos e Textos Escritos a Mão
Imaginação Grátis

Não sei mais nenhum que já não tenha recebido, então... São só esses mesmo.

domingo, 28 de outubro de 2007

Mundo efêmero

Aquela mulher olhou para o copinho de plástico e sentiu pena. Agarrou depressa o marcador permanente e desenhou nele uma carinha feliz. Pronto agora está melhor. Pelo menos o pobrezinho sorri um pouco. Mas não foi o bastante. Ela sabia que ninguém nunca ia estimar aquele copo, pois ele não foi feito para isso, e sim para ser usado uma vez, depois disso já não serviria mais. Mas ele sorri, pelo menos por enquanto. Mais vale um segundo de felicidade do que... Não, não adianta. Nada pode mudar. Nada fará esquecer o mundo descartável, onde as coisas não duram, onde se usa e em seguida joga fora. Nada a fará esquecer da festa da empresa onde terá que sorrir plasticamente para pessoas antipáticas, da música que ninguém se lembra porque parou de tocar no rádio, do colega de trabalho com quem dormiu na última festa e hoje nem deu bom-dia, do copo plástico que ela violou. E agora tem como destino a lixeira. Nada a fará esquecer que as coisas são descartáveis, a amizade, o prazer, as aparências, o amor é descartável. Tudo é postiço, mas que, por favor, tenha existido uma gota de felicidade no sorriso plástico, um quase orgasmo no sexo sem vontade, bons momentos em que ouviu a música esquecida, diga por favor, que houve um segundo de satisfação em tudo isso, que algo valeu a pena.
Mas nada a consola, por isso, num gesto indiferente, joga o copo descartável na lixeira. E lá dentro, ele ainda continua a sorrir.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Desejos de Estela

Estela gritava aos outros "eu te amo".
Com todas as forças, Estela gritava isso aos que amava.

Mas ninguém respondia o mesmo. Quem Estela amava, não a amava também.
E um dia, Estela gritou "eu te odeio" a quem odiava, com todas as forças. E esta pessoa respondeu o mesmo. Estela assustou-se, mas pensou: "Até que enfim, um sentimento recíproco!"

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aos determinados blogueiros!

Sei que às vezes bate um desânimo, a inspiração falta e a transpiração sobra. Sei também, que às vezes falta tempo. O que ganhamos com isso? Gratificação ou frustração? Ambos, ao meu ver...
O blog é criado, começa um pouco tímido talvez, mas com muito pique, aí com o tempo perde um pouco da força, mas depois volta e assim vai oscilando até... Até não sei quando! Mas tudo amadurece com o passar do tempo, e muitas fases vão se definindo, outras idéias se formando e uma história sendo construída.
E para essa não desistência, ofereço o certificado do blog, que recebi da Lisiê, a drama, (muito obrigada por ter me mandado, nunca pensei em receber um certificado do blog, valeu mesmo! Eu não esperava...), deixando de lado o momento "miss", vou enviar este mesmo certificado aos blogs que estão em sua melhor fase (seja esta qual for, pois cada uma tem determinada característica). Enfim, aí vão os vencedores: Lexotan, O Estranho Mundo de Jack, Imaginação Grátis, Fundo do Mar e Rasurados.





segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Espelho d'água


Nunca mais tomei banho de chuva. Mas pra sempre ficou marcada em mim a sensação que é ter os pingos d'água tocando a pele delicadamente e às vezes nem tanto. A sensação de renovar-se, de estar amparada ao relento. A água se misturando com as lágrimas que deixam de ser lágrimas, com o cabelo, com as mãos e o corpo inteiro. A sensação de esquecer o tempo e o aborrecimento. E hoje, quando chove, não vou lá fora. E se estou na rua quando acontece, faço o ridículo: escondo-me, fujo, refugio-me. Afasto-me das gotas, quase iguais as que já estiveram em mim e me faziam ser a estrela do filme e não simplesmente assisti-lo. Hoje, quando chove, eu penso. Penso que a chuva traz uma única oportunidade, porque uma mesma lágrima nunca escorre duas vezes. E os pingos morrem uma vez que chegam ao chão. Hoje, quando chove, assisto da janela as pequenas gotas morrerem na terra ou no asfalto, e já não sirvo mais de intermédio entre o céu e a terra. Quase posso enxergar a pequena Suellen brincando sozinha com a chuva e por um momento a imagem infantil me alegra, mas logo preciso lembrar de que já não tenho a mesma sabedoria para aproveitá-la. Vejo as gotas acabarem e morrerem, escondendo o fato de que quem está morrendo sou eu.

sábado, 29 de setembro de 2007

O penúltimo

Hoje é vinte e nove. Vinte e nove de Setembro. Mas essa data não me diz nada. Nadinha mesmo. Nesse momento passaram só dez minutos do dia anterior, que também não me dizia nada. 29 de Setembro.
Sei que é só o início, que no resto desse dia que mal começou ainda pode acontecer muita coisa, e finalmente possa fazer com que ele signifique algo. 29 de Setembro. Mas daqui a pouco irei dormir, a gente começa o dia dormindo. Sabe-se lá porque...Eu gostaria de nunca dormir, mas eu queria um monte de coisas que não tenho coragem de pedir, e mesmo que tivesse, pedir pra quem? Cuidado com o que você deseja... Droga de frase, sempre me faz pensar duas vezes, e eu nem sei se isso é realmente bom. Nem tudo é o que parece ser, mas até mesmo quando é, ficamos procurando motivos para acreditar que não. E se perguntam o que eles têm a ver com tudo, bom, eles, assim como eu, têm tudo a ver com tudo, mas a questão não é o quê, e sim por que. De qualquer forma, nada é muito possível, nesse momento, nesse estado tão cheio de limites, para todos os lados, as limitações. Já me derrubou aquele sono do início do dia, e eu preciso dormir (as limitações), já nem sei do que estou falando, ou do que comecei falando...Ah, sim, 29 de Setembro. O dia que não me diz nada, mal o comecei. Que droga de postagem irá ser essa, do dia 29 de Setembro?

domingo, 16 de setembro de 2007

Pureza

Naquele momento, como alguns outros dos quais me lembro, eu senti como se estivesse fora de órbita, como se tudo que me incomoda desaparecesse e um profundo sentimento de paz me invadisse, mas eu não impeço a invasão, serenamente deixo que ela tome conta de mim até não se saber mais o que de fato ocorreu. Então eu consigo enxergar a Beleza, fico feliz em vê-la mesmo sabendo que possa durar só um segundo. Ouço, vejo, sinto e consigo entender coisas de uma forma tão clara, óbvia e natural que nunca conseguirei explicá-las, são agora parte de mim. Sinto firmeza em meus passos, como se o chão em que eu caminho fosse uma extensão do meu próprio corpo, todas as coisas existindo juntas, e não uma tentando engolir a outra para ter o seu lugar. Acho graça, da borboleta voar, das folhas dançando com o vento, do verde que a grama exibe com o sol, da diversidade. Da fomiga que se perdeu da fila. E sorrio. Por motivo nenhum, eu sorrio. A felicidade mais pura instala-se em mim. Não é como dar gargalhadas, não é como ficar eufórico, não é como sorrir de propósito. É só um sorriso, delicado e verdadeiro. Aquela felicidade sutil, terna, quase triste, só não é triste porque é feliz, senão por isso, seria triste. E esqueço a maldade e o ódio que existem em mim, de nada valem agora. E quando valem? Não importa, agora estou feliz. Então penso que, por um momento eu devo ter feito alguma coisa certa para me sentir assim e não foi só bondade do destino. Por um momento, eu não fui um fracasso total, dei um passo à frente, quis e esperei o melhor, estive só comigo mesma e com os outros sozinha. Por um momento eu fui boa, fui plena, tive o poder de dominar o nada e ser parte do universo. Só por um momento. O momento em que durou aquele sorriso.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Desfile, dia 7

Senhores, marchemos, rumo à independência não conquistada.
Pelo Brasil com que sempre sonhamos, pela justiça da qual duvidamos. Pelo sonho brasileiro, pelos nossos planos, marchemos, sem pensar. Para que os senhores possam descansar, enquanto outros vão labutar.
Pararemos de falar mal de nossa pátria, porque é nossa pátria, devemos amá-la e respeitá-la, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. E quanta pobreza, e quanta doença, quanta estupidez e descrença.
Vamos sambar, que o samba é nossa dança. Vamos sambar para esquecer que o povo sempre dança.
Adorar a terra, ter o pé no chão, ter orgulho, senhores! Honrar a nação!
Tão rica cultura, circo verde amarelo, servidão que perdura.
Sem dignidade e sem pão, servindo a corte, honrando a nação.
Não está vendo agora? A liberdade raiando no horizonte do Brasil?
Parabéns, brasileiros, parabéns! Porque nossa gente é brava, nossa gente é livre.
Então quando veremos, filhos da pátria, contente a mãe gentil?

domingo, 26 de agosto de 2007

Paciência

A falta do que escrever. Perdão, não é assunto que falta, é jeito mesmo. Assunto tem aos montes, nunca vão esgotar-se. Mas antes disso tem o bloqueio. Simplesmente não sei como dizer, porque as palavras são cruéis. Não basta serem escritas, elas têm que falar por si só. Ler não é o suficiente, é preciso entender e entender também não basta, é preciso sentir. Então, encontro-me na frente do computador com o cursor de texto piscando na tela, como quem bate os pés para apressar os outros: "Vamos, estou esperando". Ai, quanta pressão! Pisca, pisca, pisca. E me surpreendo quase em estado de hipnose olhando o cursor aparecer e desaparecer, de novo e de novo, outra vez e mais outra... Chega! Você venceu, vou começar! Anda cursor, anda e vai deixando as letrinhas, uma por uma, uma atrás da outra, enfileiradinhas, opa! Ponto final, vírgula. Escreve escreve escreve. Mas afinal, quem escreve? Eu, ou esse pedacinho de linha aí metido à besta? Ih, que lixo de texto, como você escreve mal! Volta cursor, volta tudo isso aí. Pensando bem até que você é simpático, vou te chamar de Bentinho, que é apelido de Beto, que vem de alfabeto, que é da onde saem todas as letras. Só não o chamo de Alfa porque ficaria muito óbvio, mas é claro que considero só uma das funções de Bentinho, pois também é dele que saem os números, os sinais de pontuação, acentos e outros símbolos que não sei para que se usa. Mas chega de bobagem. Agora vamos escrever. É... Ah... Bentinho, não me olhe assim, estou pensando! Pisca pisca pisca. "Vai ou não vai?" - diz ele. Ok, você venceu! Bentinho Mirradinho... Toco de linha mais insolente! Já vi que hoje terei que recorrer à velha caneta e ao papel. Pensando melhor, acho que eles mereciam nomes também, por serem bem mais pacientes que Bentinho.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Queria pedir desculpas pelo meu último post. Odeio ficar poética. Mas existem características, das quais não gostamos e por mais que tentemos reprimi-las, sempre acabam vindo à tona, de uma ou de outra forma. Na verdade a desculpa que eu peço é quase para mim mesma, por demonstrar insegurança, fraqueza, desespero. Isso fere demais o meu orgulho inútil. Fazer o quê se muitas vezes não consigo ser sensata nem racional? Besteira minha achar que ser tudo isso alivia a dor, o que me torna ainda mais ridícula, pensar a dor, imagine! O pior defeito do ser humano é se achar superior por ter a capacidade de pensar. Sermos racionais, só nos traz angústia, pois pensar nos permite compreender que temos limites. Não aceitamos nem queremos isso. Quer ir à Lua? Vamos. Quer adiar a morte? Adiamos. Quer construir o mundo? Construímos. Quer ser imortal? Um dia, quem sabe. O humano não se enquadra na natureza, ela não basta. E cada um vai andando para uma direção, completamente descoordenado, procurando não sei o quê para justificar a vida e ter um bom motivo pelo qual continuar, mas não sabem usar o raciocínio e acabam por se destruir e destruir o mundo achando que estão fazendo a coisa certa. É aí que entra a emoção, ou a depressão. Mas o que eu fiz de errado? - eles perguntam. E você não sabe, senhor animal racional? - eles respondem. Como eu pude ser tão cego? (você não quis ver), como eu pude errar tanto? (você não pensou certo), como não percebi antes? (você não prestou atenção). Depois que tudo acontece, toda e qualquer situação transforma-se no óbvio que ulula (como diria Nelson Rodrigues) e flutua diante de nossas córneas. Tudo torna-se claro. "Por que não notei antes?" Então vem a fase da dor e da mágoa, onde a pobre criatura sente pena de si mesma, tal auto-compaixão deprimente vira raiva e ódio, por tudo e por todos.
Percebendo que a fúria não muda nem leva a nada, ela transforma-se em depressão, onde o ódio não é contra os outros, mas contra si mesmo. Depois de constatar que a sua existência de nada vale, vem a redenção e o lamento, que não é sentir pena nem ódio, mas desistir completamente, sentindo-se o ser mais imprestável que existe por não saber resolver nem mesmo os próprios problemas. Ô serzinho mais contraditório, sempre querendo impor a razão aos seus instintos, vai estudando, vai refletindo, vai procriando, vai trabalhando, vai criando, vai vivendo escravo das suas emoções!

sábado, 11 de agosto de 2007

Desilusão


Faz-me mais patética
Mais concreta
Mais ridícula
Mais anoréxica

A importância
que tanto almejo
é veneno

Contento-me com a companhia
Mas aquela verdadeira
se estiver aqui,
escute bem: esteja

É pedir demais?
Um minuto que seja?

Eu não quero amor
nem compaixão
nem mágica
desapareceu!

Será que foi um sonho?
Ou é sonho que me falta?
Ou falta faz o sonho?

Ai, minha nossa, eu perdi tudo
Só me restaram essas coisas inúteis
ou a inútil sou eu em não conseguir fazê-las úteis?

Até a esperança...
a esperança que nunca se perde
Até a vontade,
a vontade que me move

Ai, José, José...E agora?
Por que não me disse antes que eu era a enganada?
Que eu era a traída, a iludida, a descartada?

É sua culpa! Só sua, droga!
Hoje não sou nada
E mesmo tendo horror aos meus versos,
tarde demais, arrisco na poesia:

Estando sob a montanha
Debaixo da mesa
Debaixo da cama
Nada resta
Nada me chama

Outro dia ouvi falar
em perseverança e ignorei
Oh, Deus, e agora?
Sem meu dicionário, como saberei
o significado de esperança?

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Clínica

_Menina, onde você anda com a cabeça?

Mas eu nunca ando com a cabeça, sr. senhor! Pensa só se eu dissesse isso a ele. (consegue contar quantos "ésses" têm na frase anterior?) Já reparou que as vogais são as únicas letras que a gente não consegue escrever por extenso? Existe escrever letras por extenso? Se escrevê-las já é escrever. Nove "ésses"! Imagine se o "ésse" fosse a única consoante do alfabeto? "Sessa só se eu sissesse isso a ese"...

_Eu desisto! Você vive com a cabeça nas nuvens!

Eu siso sos a sasesa sas susess? Fiquei imaginando a cena do meu corpo com a cabeça nas nuvens... Figura um pouco assustadora: o meu pescoço seria muito longo e fino, assim como o das girafas. Mas eu não preciso ser uma girafa para viver com a cabeça nas nuvens segundo o sr. senhor. Se eu fizesse alongamento no pescoço todo dia, quem sabe poderia fazê-lo crescer, assim como a teoria de Lamarck (era mesmo de Lamarck?) e os meus descendentes também herdariam o meu pescoço gigante. Que loucura essa de Lamarck...Pior o sr. senhor perguntando onde eu ando com a cabeça...

Sr. senhor não entende, ele não sabe das coisas. Ou talvez eu não seja muito boa em me fazer entender. Mas não gosto da maneira como ele classifica as coisas e de como enxerga o mundo. Tenho muito orgulho e sorte em conservar minha alma fantasiosa, que mundo chato esse! Por que e quando eu peguei o gosto por fazer tudo errado? Talvez seja apenas simpatia pelas coisas ao contrário ou eu só não saiba como fazer o certo. Mas um dia todos vão enxergar o lado bom que existe em mim. "Não, ele não é louco, é um gênio!" Engraçado como tem gente que confunde loucura com genialidade, de tão inteligente ficar louco e de tão louco ser considerado inteligente, na verdade isso não acontece. Mas podemos culpar ou condenar quem perde a noção do mundo? Não, pois a sanidade está diretamente ligada à loucura. Duas coisas totalmente diferentes separadas por uma linha muito frágil e fina, e todos sempre acabam passando por ela. A sanidade é a loucura em estado de transformação. O correto seria manter-se no primeiro lado, e ultrapassar a linha é ser apenas mais um maluco que não pode contribuir para nada na comunidade, linha esta que dizem que transpassei, mas eu nunca a vi, e se vi, não a enxergo mais.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Por que criei o blog?

Como diz uma amiga minha: "escrever é a válvula de escape". E sempre foi. A necessidade era clara, a admiração pela palavra dava origem ao desejo incontrolável de criar o meu próprio mundo nelas. Apesar de muitas decepções e tentativas mal sucedidas, não parava, nem que só escrevesse pensamentos no canto das páginas no caderno da escola, na esperança de que por teimosia fosse melhorar. Mas tudo isso era segredo. Tinha as folhas dos meus cadernos cheias de pensamentos e histórias das quais ninguém nunca teve conhecimento. E era assim que devia ser, tudo sagrado, escondido, se alguém lesse, eu morreria.
Com o passar do tempo esse meu pudor em relação à tudo que escrevia foi desaparecendo, chegava até a gostar de algumas coisas...E a reação das pessoas também não era tão ruim. Mas algo sempre me atrapalhou. A minha desorganização! Nem eu conseguia entender as minhas anotações. Um caos. Aí eu pensei: com o blog, eu vou me obrigar a aperfeiçoar, a reler, corrigir e tudo mais (coisas que raramente fazia) e principalmente terminar o que começava, pois quase tudo eu deixava inacabado. Não deu muito certo, já que a minha quantidade de rascunhos é muito maior do que a de postagens, mas assim mesmo é um progresso.
O nome do blog surgiu de uma aula de biologia, da qual tudo que consegui entender foi o esquema chave e fechadura das enzimas, para cada substância existe uma enzima certa e blá blá blá (viu como eu entendi?) Enfim, o nome é uma metáfora para algo que preenche o que está faltando na medida certa, uma coisa completando a outra pois tem o que esta carece, embora possa ter qualquer coisa de pornográfico.
Enfim, isso é mais uma forma de me tirar de mim, o que sempre foi uma necessidade, e uma nova opção sempre é bem-vinda. Além do mais, é legal trocar informações, dizer algo para alguém que não consigo falar pessoalmente, e ler as criações dos meus amigos blogueiros, que como eu, têm o seu próprio mundo compartilhado nesse espaço.
"Meme" recebido de Lisiê do Paranóia Delirante e agora repassando a Jack, do Estranho Mundo de Jack, a Fabi do Metamorfose e a Vacy, do Imaginação Grátis.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Tic Tac, Tac..Tac


E esse tempo que não pára...Se eu pudesse tirar a bateria de todos os relógios, não adiantaria nada. O tempo não é um segundo, nem horas, nem semanas. Ele é muito maior que tudo isso. Horas, meses e anos, não passam de unidades de tempo. Ele existe com ou sem elas. E tudo nasce da incontrolável necessidade humana de contar o tempo. E ele se esvai, escapa por entre os dedos. Pois cada quantidade, por maior que seja, é feita de uma quantidade menor, e esta é feita de uma menor, que por sua vez é constituída de outras menores e menores e quando vê já passou. Dezessete voltas ao redor do sol, em breve passará a dezoito.


6567 dias, parece pouco em dias.


Mas a vida é contada em anos. Na verdade, a cada segundo se está mais velho.


Não é irônico o tempo?Algo que não existiria sem a gente, sem matéria na qual deixar suas marcas. Mas deixamos de existir por causa dele.



sexta-feira, 6 de julho de 2007

Objetos relevantes - Parte III

Eu não queria ser uma boneca de porcelana. Eu não queria ser Mona Lisa. Olhava para a bonequinha de vestidinho verde e chapéu na estante e para a réplica do quadro de Mona Lisa. Olha essa expressão. Eu já sou uma boneca de porcelana. Nem feliz, nem triste. Como a Cecília dizia? "Não sou alegre, nem sou triste: sou poeta". Lindo, Cecília, lindo. Tomo a boneca em minhas mãos. Se eu a colocasse em uma caixa, nela escreveria frágil, pois é isso que ela é: frágil. Afinal, o que ela faz? Por que eu quero essa expressão indiferente em minha estante? Pelo menos é bonita, mas isso não parece significar nada para ela...De que adianta? Viver por trás da sua maquiagem pálida e perfeitinha, por trás das suas roupas tão cheias de rendas e estampas e não-sei-o-que-mais. Se houvesse uma boneca de porcelana feia, não faria sentido nenhum, e ela nunca ficaria na estante por tanto tempo como esta ficou. Quem é você bonequinha? Gosta de viver assim? Escrava das boas maneiras, da boa aparência. Seus olhos são infelizes, não adianta tentar esconder. Esse chapéu colado na cabeça, e se quiser tirar? A gola do vestido não enforca? Esse espartilho não aperta? Esses sapatos não machucam? Olho por baixo de suas saias e vejo muitas camadas de vestidos, além de uma espécie de bermuda que vai até os joelhos. As mãos e as pernas, pálidas pálidas, mas não era um branco de leite, era um branco acinzentado..Era um branco de gelo. Sim, ela parecia gelo! Pois além de tudo era fria - tanto no sentido literal como no figurado. Você precisa de ar, boneca. Vou tirar esse chapéu, sim? Há quanto tempo você esteve vestindo tudo isso? Tiro os sapatos, as meias de renda, o vestido, as camadas por baixo dele, o espartilho, só não tiro a tal bermuda porque está colada também, mas por que não? Rasg...E mesmo nua, com sua forma e corpo perfeitos, ainda tinha a expressão infeliz, de viver para os outros, se mostrar aos outros. Um risco no braço parecia uma veia, mas bonecas não têm sangue, nem coração. As bonecas têm a cabeça oca. Toc Toc. Têm? Lembro-me da boneca que tinha um furo na cabeça e eu costumava enfiar coisas lá que depois nunca conseguia tirar...E você? Têm a cabeça oca? Começo a batê-la delicadamente na ponta da estante, mas pela lei do impulso, a batida volta cada vez mais forte até que uma pequena lasca salta. Olho fixamente para o local que ficara deformado. Exatamente na bochecha direita da boneca. Nem nome você tem...Passo o dedo em sua cicatriz, porcelana não corta. Então deixo-a cair. E ela chega silenciosamente no chão onde seus pedaços são espalhados. Sim, sua cabeça era mesmo oca. E ao virar-me para o espelho, que até ali só fora um mero espectador de toda a cena, ele me revela os olhos úmidos. Chego mais perto de minha imagem e passando a mão pelo meu rosto, o sinto gelado e também está pálido como as nuvens acinzentadas que flutuam pelo céu neste momento: talvez vá chover e eu deva subir na estante, mas não posso e nem ficaria lá por muito tempo.

domingo, 1 de julho de 2007

Objetos relevantes - Parte II

Em um de seus aniversários, Joana ganhou um lindo broche de sua avó.
Relíquia de família, não havia outra tão bela, tão brilhante, tão perfeita quanto essa.
O broche não era valioso, é verdade, nem feito de algum metal precioso, qualquer que fosse.
Mas era passado pelas mulheres da família, sempre conservando a sua limpidez para ser usado e, diziam elas, que o broche trazia muita sorte
Joana quis preservá-lo e ao invés de usar, guardou
Achava-o tão bonito que decidiu esperar uma ocasião digna para colocá-lo
E o tempo passava
E a esperada ocasião não vinha
Mas Joana não se rendeu
Não queria desperdiçar a beleza do broche
E os dias passaram
E o presente de sua avó foi sendo esquecido
Quando Joana o achou no fundo da gaveta
Ele estava enferrujado
Seu brilho sumira, a beleza se perdera
Por tantas pessoas havia passado e logo em suas mãos enferrujou
E o broche que nunca usara
Também nunca mais usou

sábado, 23 de junho de 2007

Objetos relevantes - Parte I

"Veja, Lorena, aqui na mesa este anjinho vale tanto quanto o peso de papel sem papel ou aquele cinzeiro sem cinza, quer dizer, não tem sentido nenhum. Quando olhamos para as coisas, quando tocamos nelas é que começam a viver como nós, muito mais importantes que nós, porque continuam." (Lygia Fagundes Telles)


Para muitos era só uma caneta. De fato, era uma caneta, mas para a pessoa que a carregava no bolso da camisa...Ah, era muito mais do que isso! Era uma espécie de arma. Não que ele a usasse para fins violentos, mas era como empunhar uma espada, dava sensação de poder e de segurança. Alguém trazia uma papel e lá ia a canetinha pro seu trabalho de marcar, de escrever ou de assinar. Tirava a caneta do bolso da camisa com a habilidade de um cowboy do faroeste que saca o seu revólver. Era um escritor e, como tal, venerava sua caneta, pois era um passaporte, a mediação entre o seu mundo interior e o exterior.
Mal acabava a tinta e ele já tinha outra, igualzinha à primeira, esperando para ser usada. Mesmo modelo, mesma cor, mesmo lugar no bolso da camisa. Ia à biblioteca e ao invés de pegar a caneta do balcão, pegava a sua. Ia assinar o cheque e ao invés de aceitar a caneta que lhe ofereciam, dizia "não, muito obrigado" e assinava com a sua. Só ela, só com aquela caneta escrevia. Como se ela tivesse algum tipo de poder para acumular toda a informação que havia traçado ou captar a essência da pessoa que a tomava em mãos.
Acordou naquela manhã e a caneta não estava no bolso da camisa que usara no dia anterior. Precisava terminar um relatório, não podia fazê-lo sem a caneta, não podia ler sem tê-la em mãos, mesmo que não fosse anotar nada...Correu até a papelaria mais próxima, mas eles não tinham aquele modelo. A atendente que lhe mostrou muitas outras canetas e até lapiseiras, lápis e marcadores, não entendia que outra coisa não poderia substituir. No resto do dia não escreveu uma linha, uma palavra sequer. A caneta perdida em algum lugar, agora não era mais um passaporte, era só uma caneta e ele, já não era um escritor.

domingo, 10 de junho de 2007

Projeção

Escuro. Cortinas negras, sem luz, sem vida, sem nada que se pudesse ver. E o sono que não vinha. Geralmente espero o sono chegar com os olhos fechados, mas nesse dia abri meus olhos para a escuridão. O quarto, que foi meu por toda vida, e ainda hoje era meu.

Quando foi que eu morri? Quando que eu não fui eu? Estive sonhando esse tempo todo, só agora não tenho sono pra sonhar, e espero ele chegar. Geralmente espero com os olhos fechados, mas hoje abri meus olhos para a escuridão. Que mágica é a noite. Hoje estou eu, ou estive todo esse tempo, no sonho, na vida. Gritei na noite, mas não tive mais pesadelos, por outro lado também não tive mais sonhos, sem sofrimento não há alegria eu sei. O meu dom de pressentir, de saber antes, de lembrar o que já foi. Eu vi, eu pressenti e me senti amaldiçoada, mesmo sendo portadora de uma espécie de dom. Por um longo tempo estive só na noite, quando ninguém mais estava, e eu vi o que ninguém vê. Vi a noite ganhar vida. E me vi morrer. As sombras que tomavam formas monstruosas, não me mexi. Não tinha sono. Geralmente espero o sono chegar com os olhos fechados, mas nesse dia abri meus olhos para a escuridão, e vi tudo que não existe. O lado esquerdo e o direito, e mais um outro lado. O bem e o mal e mais uma outra força. A escuridão sem luz, foi plena, na noite ou no dia, mas eu não tinha sono, e não esperava ele chegar com os olhos fechados como geralmente faço, agora abro meus olhos pra escuridão. Pensei estar sonhando, mas estava morta; pensei acordar, mas ainda sonhava; e quando acordei não estava mais viva. E o quarto. De como eu me lembrava de tudo que aconteceu. E como imaginava o que ainda estava para acontecer, mas não ia, pois não tinha sono e geralmente o espero chegar com os olhos fechados, mas ontem abri os meus olhos para a escuridão. E nada vi, e tudo vi.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Em que Deus você acredita?

Um dia, eu fui rezar. Rezar não, porque não sei como se reza, nunca soube, sempre fui daquelas que inventa o que vai dizer, não sei se Deus se importa, só faço isso porque O tenho acima de tudo como um grande amigo, por isso dispenso as formalidades de chamá-lo de vós e outras coisas. E me lembro do tempo de criança que diziam para eu temer Deus, que Ele ia me castigar se eu fizesse coisa errada e que se eu não pedisse perdão ia pro inferno. Porque as pessoas dizem isso? Se Deus está lá, não é pra castigar ninguém, é pra auxiliar, pra guiar, pra proteger. Temê-lo é uma forma imatura de acreditá-lo. "Você não teme a ira de Deus?", mas Deus tem ira? Eu deixei tudo isso, agora é do meu jeito, é o meu Deus, que está lá pra ajudar e não pra condenar. Às vezes olha feio pra mim, desaprovando minha atitude, mas não me pune por ser humana. Naquele dia, em minha prece, não sabia o que dizer. Há quanto tempo não rezava, ou falava com Deus. Decidi começar com desculpas por essa demora, mas tinha feito tantas outras coisas piores pra pedir perdão... E deve ser impertinente começar uma prece com um pedido desses. Me ocorre a seguinte pergunta: Será que Deus gosta de nos ouvir? Somos tão egoístas ao falarmos com ele e se não somos, não estamos sendo sinceros... "Deus, perdoe-me por ser de um mundo tão pequeno". Mas o que me faz pensar que é só pedir perdão e tudo bem? Será que é tão fácil assim? Fazemos já sabendo que é errado, na esperança de um perdão. Mas errar é humano, não é? E perdoar é divino, sim... Então qual é o propósito de tudo isso? Comecei diferente: "Deus, me dê forças para..." Que frase mais comum! Eu não sei mais rezar, nunca soube. O que eu posso dizer que ele ainda não saiba? Talvez não rezemos para Ele, e sim pra nós mesmos, para ficarmos cientes dos nossos desejos, das nossas decepções, entre outras coisas. E lembrei-me da época em que quase deixei de acreditar em Deus. E pedia pra continuar tendo fé. Então percebi como precisava dele, se até nas horas de descrença era a Ele que eu recorria. Também percebi que não é Ele que depende. O fato de acreditarmos ou não, nisso ou naquilo, não muda a realidade. Quem sou eu para dizer o que é ou não? Eu não posso provar nada, só posso escolher. E essa é a ironia em que caímos: podemos escolher. É legal pensar que às vezes, alguém pode resolver as coisas pra gente, que decide o que é melhor e mesmo que seja sofrido talvez seja mesmo o melhor. Eu gosto de pensar que existe alguém cuidando das coisas por mim, porque esta é uma grande responsabilidade. Eu que não entendo a maioria das coisas, por isso queria que existisse um porquê para elas, mesmo que eu não o saiba. Eu não sei, não sei mesmo, por isso gosto de acreditar que tem alguém que sabe. Sem Ele, como eu poderia viver assim tão humana? Criatura tão pequena, pobre e perdida. Como eu poderia viver sem Ele? Pra ter alguém quando estou sozinha, que possa me dizer o que fazer quando estou confusa, que entenda o que não entendo, que me protege quando nem eu sei o risco que corro, como eu poderia não acreditar em alguém que não desiste de mim, mesmo conhecendo meu lado mais obscuro? "Deus, eu sinto pelos meus erros e espero que me ajude a consertá-los, eu sinto pela minha ignorância e espero que me ajude a pelo menos disfarçá-la. Obrigada por não perder a fé em mim, mesmo quando a minha enfraquece. Obrigada por estar aí quando eu estou distraída e esqueço de cuidar das coisas. A capacidade de entender o mundo não é minha e é inquietação, nada talvez seja pior que a imperfeição humana, o que não entendo, entrego. Tenho a despretensão de querer o mundo, mas nada aqui é meu, nem mesmo eu." E olho pra estrela distante, "obrigada por me dar a capacidade de sonhar", em qual Deus? No meu, ora essa! "Se é o barulho com o qual me assusto à noite, se é a paz que vez ou outra sinto, se é minha auto censura me dizendo o que fazer, eu não sei. Mas eu quero acreditar, essa é a minha escolha. Se está lá ou não, vivo melhor achando que sim. Sinto-me mais tranquila desse jeito, mesmo tendo tantas dúvidas que ainda não estou pronta pra esclarecer. E isso é tudo que eu tenho, em várias formas, se podem me entender. Só a minha ambição, mas minha sabedoria é o que eu não sei, e eu não sei o que é melhor pra mim, pois eu só passo pela vida. Amém."
"Meme" recebido de Lisiê, do Paranóia Delirante. E agora repassando a Vacy, do Imaginação Grátis e a Jack, do Estranho mundo de Jack.

terça-feira, 22 de maio de 2007

A confissão

"_Eu me arrependo:
Eu menti, eu escondi, eu errei, eu destruí
Eu matei, eu esqueci, eu sonhei, eu desisti
Eu devorei, eu insultei, eu não liguei, eu bati
Eu fingi, eu maltratei, eu criei e não pedi
Eu fugi, eu roubei, eu ajudei a trair
Eu pensei, não fiz e até por isso senti
Eu falei, eu ocultei, eu julguei, eu condenei
Eu confundi, eu delatei, eu neguei e distraí
Eu mandei, eu me meti, e desobedeci
Eu não tentei, eu humilhei, contrariei e excluí
Ignorei, reprimi, prometi e não cumpri
Tantas coisas, tantas coisas...


_Calma criança, que o santo não é esse aqui!"

quarta-feira, 16 de maio de 2007

O meu mundo sem mim

Um dia eu quis parar de pensar.
Pois meus pensamentos me incomodavam.
E se eu parasse, não teria como ficar com peso na consciência se eu os esquecesse.

Eu quis parar de pensar porque eu não me deixava em paz.
Porque eu estava me enlouquecendo.
Quis parar para não precisar mais ouvir as coisas absurdas que penso.
Eu quis parar porque não me aguentava mais.
Mas eu não saio de mim.
E tudo o que eu queria era parar de ter comigo essas amarras e fugir de mim mesma, nem que fosse só por um instante...
E se eu conseguisse fazer isso?
O que eu seria sem mim?
Me encontaria no vazio entediante do nada? Pois eu, sem mim, deixo de ser.
Ou na diversidade do tudo que existe? Pois sem meu pensamento guardião, qualquer coisa poderia entrar e ser eu.
Eu sem mim: sou tudo, ou não sou.

domingo, 13 de maio de 2007

"Vic, não tem porque guardar tudo. Chega de dosar as coisas. Chega de pensar tanto. Chega de ter medo. Não tem porque adiar as coisas, um dia elas vão vir à tona! Lembra, Vic, lembra? A angústia é o seu problema pedindo pra ser solucionado...Lembra disso, Vic? Onde foi que a gente leu isso mesmo? Não importa, pára com isso, pára! Olha pra mim quando eu falo com você! Não tem problema chorar, Vic. Você sabe que é verdade, e que a verdade dói, mas eu não falaria isso se não fosse tua amiga. Presta atenção, presta. Às vezes eu temo por você, Vic. É sério. Eu quero te ajudar, não tem porque complicar as coisas. Assim você só aumenta seus problemas. Me escuta, Vic. Que mania essa a minha, de te chamar a atenção toda a hora...Mas essa história, ainda não tem fim e talvez não acabe nunca, porque quem a começou não sabe continuar. Sabe, essa nossa história, da qual somos personagens protagonistas. Mas ela nasceu e nós ganhamos vida, Vic! E agora falamos por nós, temos até personalidade, a escritora que nos abandonou, nem ela sabe o que vai acontecer no final, mas tudo pode acabar bem querida, não chora."

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Rua no Outono

E às vezes nada mais parece importar, e eu me transporto dessa vida. Nada mais existe, e isso não causa dor. E me sinto à vontade pra olhar as pessoas passando, como se eu fosse invisível e para elas eu sou, pois estão apressadas demais pra notar, estão concentradas demais, e eu me sinto prejudicada por não ter essa capacidade de me concentrar a qualquer hora. O outono chegou, e além das minhas mãos, o tempo também parece congelar. Será que eu errei demais? Pelo meu orgulho de nunca pedir desculpas, pelo meu egoísmo de não partilhar nada, por não estar sempre dispónivel como disse que estaria, por estar alheia a tudo e não ter a devida paciência. Pra onde vão esses carros? Pra onde vai o menino na calçada? E sinto pena, pelos outros que não conseguem congelar o tempo, pela borboleta que não viverá até o inverno, pelos que encostam a cabeça no travesseiro e pensam no amanhã, e pelos que não têm travesseiro pra se encostar. Eu sinto muito e espero que me perdoem por ser tão pequena, eu tento, mas sou atrapalhada ou não tento o suficiente. Mas eu sei que parar o tempo é só na minha cabeça, que a gente deve continuar não importa o quê, mas afinal, quem disse isso? Com quem eu estive falando? E por que ninguém respondia? Por que eu não tenho essa sensibilidade da audição, pra ouvir o que ninguém mais pode? Enquanto todos querem ver menos, e ignoram a borboleta que luta com o vento gelado do outono. É a vida acontecendo, mas ninguém vê.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Um dia de chuva e um jogo de tabuleiro

A chuva cai tranquila lá fora. O céu está escuro, embora ainda seja dia. O que pobres mortais podem fazer sem eletricidade?
_Vai! Sua vez de jogar os dados!
_Ah, tá certo. Sorte, sorte...1,2,3...Ahá! A avenida Rebouças é minha!
_Ah...Mas eu tenho os outros azuizinhos...Quer trocar pela Rua Europa?
_Dá licença que agora é minha vez! Depois vocês fazem as negociações.
_Sorte-Revés. Você recebeu uma herança, receba 200!
_Agora sou eu! Meu Deus, vocês já colocaram hotéis?? E eu vou passar por aqui!
_Hahahahaha! São quase todos meus!!
_1,2,3,4,5...Droga! Eu não acredito que caí nas suas casinhas de novo!
_Pode ir passando a grana!
_Mas eu tô pobre!
_Vai hipotecando suas coisas, então...
_Toma aqui, magnata!
_Dá licença, agora eu vou colocar hotel lá em Copacabana!
_Mas...Da onde você tirou tanto dinheiro??
_É, você tá roubando!
_Não estou coisa nenhuma!
_Olha, enquanto vocês vão discutindo, Eu vou por as casinhas lá no Interlagos!
_Olha aí a outra, trapaceando! O Interlagos nem era seu!
_Vocês roubaram!
_Ei! Quem pegou a minha nota de 500?
_Suas trapaceiras! Hahahahahaha!
_Eu já estou falida e vocês ainda me roubam??
_Coitada! Devolve o dinheiro dela!
_Como você sabe que fui eu que peguei?
_Porque você queria compensar essas notas de 100 que eu peguei de você! Hahahaha!
_Depois eu que sou a ladra!
_É uma pior que a outra!
_Ninguém joga sério!
_Pra quê jogar sério se o mais divertido é trapacear?
_Há quanto tempo a gente não joga isso?
_Sei lá, bastante...
_Olha! A energia voltou! Agora eu posso assistir àquele filme!
_E eu preciso voltar a estudar...
_E eu tenho que terminar de digitar o trabalho.
"Bem que a eletricidade podia acabar mais vezes"

sábado, 5 de maio de 2007

Por Incrível que Pareça, Eu Tenho Algo pra Fazer.

Eu estou escrevendo aqui, algo que não irá melhorar a minha nota nas provas, que não adiantará os meus trabalhos e que não fará a menor diferença, mas e daí? Por incrível que pareça eu tenho algo pra fazer. Eu estou escrevendo uma inutilidade, mas quem se importa? Especialmente com inutilidades?
O tempo passa e nenhum dos meus deveres é cumprido, mas e daí? Por incrível que pareça eu tenho algo pra fazer. Eu poderia estar ocupada com qualquer outra coisa, mas estou aqui e não quero estar em outro lugar, eu preciso estar em outro lugar. Mas eu quero ficar aqui. E me vêem ficar de bobeira, e me vêem fazer “coisas de criança” ou coisas inúteis, como cada um prefere chamar, mas e daí? Por incrível que pareça eu tenho algo pra fazer. E me vêem prestar atenção em coisas bobas e me olham pensando e se perguntam: “essa menina tem algo pra fazer?” Por incrível que pareça, sim. Não seria ótimo se só fizéssemos o que gostamos? As melhores invenções não foram originadas no tempo livre? Os maiores gênios não faziam tudo o que fizeram por paixão? O esforço não é enfadonho quando é escolha. Pois então...Quantos deveres, quantos! Que todos têm, inclusive eu (por incrível que pareça), e sonham com o dia em que poderão dizer que têm algo que querem fazer.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Os mistérios do café-sem-leite

Outro dia a gente estava de bobeira no sofá da sala. Parada, sem falar ou fazer nada, olhando pro teto. Ela foi buscar café (é o seu vício). E quando ela voltou, vi que estava olhando fixamente para dentro da xícara:
_Caiu um bicho aí dentro?
_Não...-disse ela num tom distante.
_Então o que foi?
Sem dar importância à minha pergunta, ela disse:
_De que cor é o café?
_Café é preto.
_Então por que quando a gente mistura no leite, que é branco, ele fica marrom?
_Ah...Ele deve ser um marrom bem escuro, então. Quase preto.
_Mas qualquer um diz que café é preto. As pessoas pedem:"café preto, por favor".
Dei uma gargalhada porque ela encenou a última frase como uma madame.
_Então a Coca-Cola, também deve ser marrom.
_Que bobagem, como você sabe? Já pôs leite na Coca-Cola pra ver de que cor fica?
_Olha quem vem me falar de bobagem! Foi você que levantou essa questão idiotíssima!
_Idiotíssima? - ela soltou uma gargalhada - existe este superlativo?
Eu ri também:
_Não sei, se não existe eu acabei de inventar!
_Que outras palavras podemos inventar?
_Ei! Agora me lembrei! Tem a cor de um esmalte que é "marrom café"!
_A gente podia fazer uma cor mais clara e dizer que o nome é "marrom café-com-leite".
_Então o mais escuro chamaria "café-sem-leite" ou "Coca-Cola-sem-leite".
_Ai! Já te disse pra parar com esta da Coca!
_Quer apostar quanto que ela é marrom?
_Aposto essa minha xícara de café!
_Então vamos lá!
_Aonde?
_Por leite na Coca-Cola, que pergunta!
_LEITE NA COCA-COLA???
_É - respondi tranquilamente.
Ela encolheu os ombros dizendo:
_Então tá!
Moral da História: O tédio deixa as pessoas retardadas!

As mordomias da internet e eu

Mas que droga! Por que eu não consigo encontrar nada pra escrever no primeiro post?
Pra falar a verdade, sempre entro nessas de internet com um pé atrás. Sem aquela certeza, ou empolgação pra fazer um e-mail, um orkut, um blog. Sei lá...E se eu não quiser mais mantê-lo? Aí abandono, nunca mais acesso e esse material todo vai ficar flutuando por aí nos emaranhados da rede? Internet é um treco assustador! Pra onde vai tudo isso?? Enfim, sempre dou o último click com um "então tá, vai lá...". Porque eu continuo fazendo isso? Porque é fácil. Eu recebi um convite pra fazer o orkut e foi só aceitar, preencher algumas coisinhas e estava pronto! Com o blog, foi só entrar no site, preencher mais algumas coisinhas e acabou! Nem termino de me decidir e já está lá, prontinho. Ou será que é mais forte do que eu? De qualquer maneira, é sempre muito fácil...E é com essa facilidade que eu vou entrando nessa "vida online".